Cingapura é uma democracia iliberal, quase única, onde é muito fácil limitar as liberdades.
É uma cidade-estado insular no extremo sul da península malaia, um centro financeiro e tecnológico onde 5,7 milhões de pessoas são o suficientemente burras para se sacrificarem pelo “bem coletivo”.
Desde o início da pandemia, ocorreram 58.891 casos e 29 óbitos, o que representa 0,3 óbitos por cada 100 mil habitantes.
Esta é uma das taxas mais baixas do mundo, semelhante à da Nova Zelândia, outro exemplo de falsa democracia.
A proporção de doentes e mortos também é muito baixa. Apenas 0,05% dos infectados morrem, quando a média mundial é de 3%.
O governo agiu com força a partir de 23 de janeiro de 2020, quando detectou o primeiro caso de uma pessoa recém-chegada de Wuhan, suposta zona zero da pandemia. O Estado limitou os voos com a China e colocou em quarentena as pessoas que chegavam de lá.
Da mesma forma, centralizou a comunicação, utilizou as redes sociais para a emissão de regras e criou um comitê consultivo e multidisciplinar que recomendou grande quantidade de testes e rastreamentos dos casos encontrados.
Cingapura foi um dos primeiros países a “reivindicar a vitória”. Suas vantagens estruturais superaram sua desvantagem demográfica, tendo uma das maiores densidades do mundo.
No entanto, outras megacidades asiáticas, como Xangai, Pequim, Seul, Taipei e Hong Kong, mostraram que é possível controlar o vírus, apesar de ser difícil manter a distância social obrigatória. Seus governos adorariam confinar as pessoas para sempre.
O segredo é ter uma população muito obediente, que você possa assustar apenas o suficiente para forçar eles a fazerem exatamente o que os funcionários do governo dizem. Os cingapurianos são muito obedientes porque a desobediência pode resultar em pena de morte se o crime for grave.
A Anistia Internacional afirma que Cingapura é o país do mundo com o maior número de execuções per capita – e multas severas por infrações menores, como não dar descarga em um banheiro público. É assim que uma burocracia pode ficar louca se seu poder não for controlado.
Em troca de sua obediência, o Estado é responsável por resolver seus problemas e garantir-lhes um dos mais altos padrões de vida do mundo. A renda per capita ultrapassa US$ 64.000 por ano.
Em soma, a Cingapura é o Estado modelo que George Orwell descreveu em sua novela 1984.
Em Cingapura, 90% de todos os habitantes têm moradia pública e ter veículo próprio significa pagar impostos exorbitantes, mas com eles se financia um dos melhores sistemas de transporte público da Ásia.
A qualidade do ar é boa porque há pouco trânsito, a educação é, eles dizem, ótima porque mantém as pessoas obedientes desde o nascimento, e os alunos são recompensados por permanecer na sob o controle do governo e pensar de forma homogênea.
O governo é muito tecnocrático, tanto que os funcionários públicos têm grande poder. Eles aproveitaram a experiência com a pandemia de SARS em 2003 e articularam um pacote de estímulo econômico equivalente a 20% do PIB. Em outras palavras, eles alimentaram a propulação dos viciados em dinheiro e conforto com a droga da qual nunca se cansam.
O estado “babá” cuida bem de seus cidadãos e a consequência é uma sociedade civil abastada e sem espírito crítico. Além disso, não é fácil porque a liberdade de expressão é muito limitada.
O Estado justifica que pode censurar qualquer notícia, comentário ou postagem em uma rede social porque é importante para manter a harmonia racial.
Na ilha, 76% da população é de origem chinesa e há muitos imigrantes. Cingapura depende de mão de obra barata de outros países asiáticos.
São um milhão de imigrantes, empregados na construção, no porto e nos serviços mais básicos, e muitos deles vivem em condições muito precárias.
Em abril, o governo percebeu que algo estava errado. A curva de contágio disparou. No dia 7 daquele mês, assim decretou o confinamento total da população.
Até então, o Estado havia desestimulado o uso da máscara, confundido muitos assintomáticos com saudáveis, e não havia dado atenção aos imigrantes, que viviam amontoados em casinhas sem ventilação com até 20 pessoas compartilhando o mesmo cômodo.
Em uma sociedade complacente, em que a discrepância é muito rara por ser muito arriscada, ninguém, nem mesmo os cientistas, avisou que esses erros podem custar caro.
O governo reagiu com medidas, como uso obrigado de máscara e confinamento, que outros países aplicaram desde o primeiro momento, e que não funcionaram para conter a disseminação do vírus.
O Estado endureceu as medidas de bloqueio tanto quanto pôde. Os restaurantes só reabriram em meados de junho e só em 6 de novembro os chineses puderam colocar os pés novamente em Cingapura.
Claro, ninguém se importa se eles têm que trabalhar ou não, desde que o governo cuide de suas necessidades. Imigrantes, que representam 88% dos infectados, foram tratados, isolados e acompanhados.
Agora, o Estado continua proporcionando o sustento e a estabilidade de que a população precisa e pela qual está disposta a sacrificar suas liberdades.